O Problema da Habitação em Portugal

Uma Análise dos Dados de Construção e Preços dos Imóveis de 1990 a 2023

O problema da habitação em Portugal tem sido uma questão central no debate público e político, principalmente nas últimas décadas. A crescente dificuldade em adquirir ou arrendar uma casa a preços acessíveis afeta grande parte da população, levando a uma análise profunda das causas subjacentes. Este artigo visa explorar os dados estatísticos da construção de habitação entre 1990 e 2023 e relacioná-los com o aumento dos preços dos imóveis, bem como outras causas que contribuem para a crise habitacional no país.

Evolução da Construção de Habitação

A análise da construção de habitação em Portugal entre 1990 e 2023 revela várias tendências importantes:

  1. Crescimento Inicial e Estagnação: Nos anos 90, Portugal experimentou um boom na construção, impulsionado por políticas de incentivo à habitação e fundos comunitários. No entanto, a partir de 2008, com a crise financeira global, a construção desacelerou significativamente.
  2. Retoma Pós-Crise: A partir de 2014, a construção de novos imóveis começou a recuperar, embora não tenha atingido os níveis pré-crise. Esta recuperação foi em grande parte impulsionada pelo aumento do turismo e pelo interesse de investidores estrangeiros.
  3. Dados Estatísticos: Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a construção de novas habitações teve os seguintes marcos:
  • Década de 1990: Construção média anual de cerca de 50.000 novas habitações.
  • Década de 2000: Pico em 2001 com 70.000 novas habitações, seguida de uma queda.
  • 2008-2013: Queda drástica com médias anuais abaixo de 20.000 novas habitações.
  • 2014-2023: Recuperação gradual com médias anuais subindo para cerca de 30.000 novas habitações em 2022.

Aumento dos Preços dos Imóveis

Os preços dos imóveis em Portugal têm mostrado um aumento constante, especialmente nas áreas urbanas e turísticas. Algumas das razões incluem:
Procura Externa: O interesse crescente de investidores estrangeiros tem pressionado os preços para cima, particularmente em cidades como Lisboa e Porto.

  • Turismo e Alojamento Local: O crescimento do turismo e a conversão de habitações em alojamento local reduziram a oferta de imóveis residenciais, aumentando os preços.
  • Políticas de Incentivo: Programas como os Vistos Gold e o regime de residentes não habituais atraíram muitos investidores, aumentando a procura por imóveis de alto valor.
  • Escassez de Oferta: A recuperação lenta da construção pós-crise e a burocracia associada ao licenciamento de novos projetos contribuíram para uma oferta limitada de novas habitações.

Outras Causas Contributivas

Além da relação directa entre construção e preços dos imóveis, outros fatores também contribuem para a crise habitacional em Portugal:

  • Desigualdade de Rendimento: O crescimento económico desigual tem deixado muitas famílias incapazes de acompanhar o aumento dos preços dos imóveis.
  • Políticas de Habitação Insuficientes: A falta de políticas públicas eficazes para a construção de habitação acessível tem exacerbado o problema.
  • Gentrificação: A revitalização de áreas urbanas levou à deslocação de residentes de longa data devido ao aumento dos custos de habitação.

Políticas Recentes: Programa Mais Habitação

O XXIII governo português lançou o programa “Mais Habitação” como uma resposta à crise habitacional, com várias medidas e incentivos, tendo o XXIV governo, revogado algumas, alterado outras e adicionado novas medidas. Na generalidade destacam-se as seguintes:
  1. Incentivos à Construção e Reabilitação: O programa visa aumentar a oferta de habitação acessível através de subsídios e isenções fiscais para a construção e reabilitação de imóveis.
  2. Regulação do Arrendamento: Medidas para proteger inquilinos e controlar aumentos abusivos de renda, incluindo limites ao valor dos aumentos anuais.
  3. Políticas de Isenção e Apoio Social: Isenções fiscais para proprietários que optem por arrendar a preços controlados e aumento do apoio social para famílias de baixos rendimentos.
  4. Medidas para Jovens até 35 anos: Reconhecendo a dificuldade dos jovens em entrarem no mercado de habitação, o governo implementou várias medidas específicas:
  • Incentivos ao Arrendamento: Subsídios ao arrendamento para jovens, tornando-o mais acessível.
  • Apoio à Compra de Habitação: Linhas de crédito com condições vantajosas e juros reduzidos para jovens que desejem adquirir a sua primeira habitação.
  • Isenções Fiscais: Reduções no Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e no Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) para jovens compradores.
  1. Alterações Constantes: O programa tem sofrido várias alterações para se adaptar às dinâmicas do mercado e às necessidades da população, incluindo revisões de critérios de elegibilidade e ajustes nos incentivos financeiros.

Perspectivas para 2025

Com base nas tendências actuais e nas políticas em implementação, as perspectivas para 2025 incluem:

  1. Aumento da Oferta de Habitação: Espera-se que as medidas do programa “Mais Habitação” e os incentivos à construção e reabilitação resultem num aumento significativo da oferta de imóveis acessíveis.
  2. Moderação dos Preços: Com o aumento da oferta e a regulação do mercado de arrendamento, projeta-se uma moderação no ritmo de aumento dos preços dos imóveis, especialmente nas áreas urbanas.
  3. Melhor Acesso para Jovens: As medidas direcionadas para jovens até 35 anos deverão facilitar o acesso desta faixa etária ao mercado de habitação, tanto no arrendamento quanto na compra.
  4. Equilíbrio no Mercado Imobiliário: A implementação efetiva das políticas de habitação poderá levar a um maior equilíbrio entre oferta e procura, reduzindo a pressão sobre os preços e melhorando o acesso à habitação.

Conclusão

O problema da habitação em Portugal é multifacetado e resulta de uma complexa interação entre a oferta limitada de novas construções, a crescente procura externa, políticas de incentivo a investimentos estrangeiros, e fatores socioeconómicos internos. As recentes iniciativas governamentais, como o programa “Mais Habitação”, representam passos importantes na direção certa, mas a eficácia destas medidas dependerá da sua implementação consistente e da capacidade de adaptação às dinâmicas do mercado. Para mitigar esta crise, é necessário um enfoque integrado que inclua a promoção da construção de habitação acessível, a regulamentação do mercado de arrendamento, e políticas que visem a redução da desigualdade de rendimento.

Referências
  • Instituto Nacional de Estatística (INE)
  • Relatórios de mercado imobiliário (por exemplo, Confidencial Imobiliário)
  • Artigos e estudos de habitação publicados em periódicos especializados
  • Documentação oficial do programa “Mais Habitação”
Sérgio Ângelo
Broker da Além Tejo

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