O Futuro da Construção

Uma Casa Passiva para um Portugal Sustentável

A sustentabilidade é um tema cada vez mais crucial na sociedade atual. A necessidade de proteger o ambiente e de garantir um futuro mais verde impacta todos os setores, inclusive o da construção. Afinal, a construção civil representa cerca de 40% do consumo energético na União Europeia e é responsável por uma parte significativa das emissões de gases de efeito estufa.

Nesta corrida por um futuro mais sustentável, o conceito de Casa Passiva surge como um farol, prometendo revolucionar a forma como pensamos e construímos casas, e, por extensão, cidades. Uma Casa Passiva é um tipo de construção que, através de um conjunto de estratégias de design e tecnologia, visa atingir níveis de eficiência energética incomparáveis com as construções tradicionais.

A Casa Passiva não é um tipo de construção definido por um estilo arquitetónico específico. A sua essência reside em alcançar o máximo de conforto térmico e qualidade de vida com o mínimo consumo de energia. Isso é possível graças a uma série de elementos-chave, que trabalham em sinergia para criar um ambiente interno propício e sustentável:

  • Isolamento térmico de alta performance: As paredes, o telhado e as janelas são cuidadosamente isolados para evitar perdas de calor no inverno e o excesso de calor no verão. Isso garante um ambiente interno estável e confortável, independente das condições climáticas externas;
  • Janelas de alto desempenho: As janelas são escolhidas com cuidado para garantir o máximo isolamento térmico, e, idealmente, devem ter várias camadas de vidro e um sistema de vedação avançado;
  • Ventilação mecânica com recuperação de calor: O sistema de ventilação garante a renovação constante do ar interior, eliminando a umidade e poluentes, mas sem comprometer o conforto térmico. Um sistema de recuperação de calor garante que a energia do ar de exaustão seja aproveitada para pré-aquecer ou pré-resfriar o ar de entrada;
  • Orientação solar estratégica: A construção é projetada para maximizar o uso da energia solar passiva durante o inverno, maximizando a captação de luz solar e calor.

 

A combinação destes elementos garante um ambiente interior saudável e confortável, com temperaturas estáveis, boa qualidade do ar e boa luminosidade natural, sem a necessidade de sistemas de aquecimento e refrigeração tradicionais. 

A Casa Passiva não é apenas um conceito inovador, mas um marco na construção moderna.

A sua implementação está a transformar o setor da construção em diversos países, liderando a mudança para um futuro mais sustentável.

A Experiência Europeia: Um guia para a implementação em Portugal

A Europa tem-se destacado como pioneira na implementação de Casas Passivas, com iniciativas ambiciosas e resultados concretos.

A Alemanha, por exemplo, foi a primeira a abraçar o conceito, impulsionando o desenvolvimento de normas e padrões rigorosos para a certificação de edifícios passivos. 

A cidade de Hanover, na Alemanha, é um exemplo notável. A partir dos anos 80, a cidade adotou uma política estratégica para a implementação de Casas Passivas, com a construção de edifícios públicos e privados que seguem os padrões rigorosos do Instituto Passivo*. A cidade incentiva a construção de Casas Passivas, oferecendo incentivos financeiros para investidores, promovendo a educação e a formação profissional no setor, e realizando campanhas de consciencialização para o público.

Também Bruxelas, na Bélgica, se destaca pela implementação de políticas ambiciosas, impulsionadas por desastres climáticos que chamaram a atenção para a necessidade de medidas urgentes. O governo local promove incentivos financeiros para a construção de edifícios de baixo consumo energético, incentiva a construção de edifícios públicos com altos padrões de eficiência energética, e oferece programas de formação para profissionais do setor.

O Tirol, na Áustria, é outro exemplo de região com uma política de sucesso para a implementação de Casas Passivas. O governo local investe em pesquisas e tecnologias para o desenvolvimento de soluções de construção eficientes, promove a certificação de edifícios, e incentiva a construção de casas passivas com incentivos fiscais.

O Desafio da Implementação em Portugal

O sucesso da implementação de Casas Passivas na Europa demonstra que este conceito é viável e eficaz, mas o desafio em Portugal é grande. O país ainda está em fase inicial de adaptação, com poucas construções certificadas e uma mentalidade tradicional no setor da construção.

As principais barreiras que impedem a implementação de Casas Passivas em Portugal são:

  • Falta de conhecimento técnico: O conhecimento sobre o conceito de Casa Passiva ainda é limitado em Portugal, tanto por parte dos profissionais do setor da construção como por parte dos consumidores;
  • Falta de incentivos financeiros: Faltam políticas de incentivo e financiamento para a construção de Casas Passivas em Portugal, e os custos iniciais de construção são considerados altos por muitos investidores;
  • Mentalidade tradicional: A cultura construtiva em Portugal ainda é muito tradicional, focada em soluções mais convencionais e menos eficientes.

Um Olhar Profundo: A Importância da Pesquisa e dos Estudos

A implementação de Casas Passivas em Portugal não se dá no vácuo. Diversos estudos e pesquisas têm-se dedicado a analisar o potencial e os desafios do conceito no contexto português.

Autores como Figueiredo, Vicente, Oliveira e Rodrigues, por exemplo, realizaram pesquisas e desenvolveram modelos computacionais para avaliar a viabilidade da implementação de Casas Passivas em diferentes regiões de Portugal, levando em consideração as condições climáticas específicas de cada região.

Os resultados desses estudos demonstraram a viabilidade do conceito em Portugal, mesmo com as particularidades do clima e da cultura construtiva local. No entanto, os estudos também identificaram a necessidade de adaptação do conceito para as condições portuguesas, com a utilização de técnicas e materiais específicos para garantir o desempenho térmico e energético desejado.

A realização de estudos e pesquisas de ponta é fundamental para impulsionar a implementação de Casas Passivas em Portugal. A comunidade científica pode desempenhar um papel crucial na disseminação do conhecimento, na validação de soluções, e na elaboração de diretrizes e normas para a aplicação do conceito no país.

A Mudança de Mentalidade: Um Caminho para um Futuro Sustentável

A implementação de Casas Passivas em Portugal exige uma mudança de mentalidade. É preciso romper com as barreiras do tradicional e abraçar a inovação.

Para construir um futuro sustentável, é crucial:

  • Promover o conhecimento e a formação profissional: É fundamental capacitar profissionais do setor da construção com conhecimento e habilidades em projetos, tecnologias e técnicas de construção de Casas Passivas;
  • Criar incentivos financeiros: O governo português terá de implementar políticas públicas que incentivem a construção de Casas Passivas, com incentivos fiscais, subsídios e programas de financiamento específicos;
  • Desenvolver projetos-piloto: A construção de projetos-piloto de Casas Passivas em diferentes regiões do país pode demonstrar os benefícios do conceito e incentivar a adoção por parte de outros investidores, promotores e construtores;
  • Promover a comunicação e a consciencialização pública: É preciso comunicar os benefícios da Casa Passiva ao público em geral, através de campanhas de informação, palestras e eventos, incentivando a construção de casas mais eficientes e sustentáveis.

 

A mudança para um futuro sustentável depende de uma mudança de mentalidade. É preciso entender que a Casa Passiva é mais que um conceito, é uma solução inovadora e eficaz para construir casas mais confortáveis, saudáveis e eficientes. É tempo de deixar o passado para trás e abraçar o futuro da construção, um futuro verde e sustentável.

*O Instituto Passivo (Passivhaus Institut) da Alemanha é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1996 que atua como referência mundial no desenvolvimento e promoção do conceito de Casa Passiva. O instituto desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e na difusão deste conceito inovador, promovendo a construção de edifícios de alta eficiência energética que minimizam o consumo de energia e reduzem a pegada ambiental.

Partilhar Artigo

Este site está protegido por reCAPTCHA e aplica-se a Política de Privacidade e os Termos de Serviço da Google.

Mantenha-se a par
subscreva a
nossa newsletter.

plugins premium WordPress